O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, afirmou nesta terça-feira em depoimento ao juiz Sergio Moro que a ideia de fazer uma nova sede para o Instituto Lula foi da ex-primeira dama Marisa Letícia e que ela não queria que ele soubesse. Bumlai está prestando depoimento por videoconferência na manhã desta terça-feira no processo em que Lula é acusado de receber benefícios da Odebrecht — uma cobertura vizinha à dele, em São Bernardo do Campo, e um imóvel que foi comprado pela Odebrecht em Indianópolis, na capital paulista, mas não foi usado pelo Instituto Lula. A ex-primeira dama Marisa Letícia morreu no último dia 3 de fevereiro, depois de alguns dias internada devido a um AVC.
Em depoimento de delação, o empresário Marcelo Odebrecht afirmou ter sido procurado pelo advogado Roberto Teixeira e pelo pecuarista José Carlos Bumlai, que teriam apresentado o imóvel para ser sede do Instituto Lula. Segundo ele, os dois foram avisados que o dinheiro teria de sair da conta corrente de propina mantida com o PT. Por isso, teriam de obter autorização do ex-ministro Antonio Palocci, que, segundo ele, geria os valores. Palocci teria dado sinal verde e o prédio foi comprado por R$ 12,5 milhões pela empresa DAG, uma construtora baiana parceira da Odebrecht.
O Instituto Lula nunca usou o prédio. A Odebrecht acabou comprando o imóvel da DAG e Marcelo Odebrecht pediu a um dos executivos da Odebrecht Realizações que procurasse outro imóvel em São Paulo para abrigar o Instituto. Mais de duas dezenas de imóveis foram visitados, mas o Instituto não teria aprovado nenhum deles.
Na ação, o Ministério Público Federal (MPF) alega que, como parte de acertos de propinas de contratos da Petrobrás, o Grupo Odebrecht teria oferecido ao ex-presidente vantagem indevida, de cerca de R$ 12 milhões, com a compra do imóvel da Rua Dr. Haberbeck Brandão.
A vantagem teria sido aceita e a transferência não teria sido ultimada por problemas pendentes com o imóvel. O valor sairia de um caixa geral de propinas do PT, que seria, segundo os procuradores, administrado por Palocci. Marcelo Odebrecht disse que o valor, como não foi usado, voltou a ser reincorporado à conta de propinas do PT.