No Dia Mundial da Água, deputados estaduais do Rio Grande do Norte e da Paraíba se reuniram na Assembleia Legislativa potiguar para adoção de encaminhamentos ao Governo Federal para acelerar as obras de transposição do Rio São Francisco. Na semana passada, as águas que estão sendo canalizadas por dois eixos, Norte e Leste, chegaram ao município de Monteiro (PB), trazendo o assunto à pauta nacional. No RN, os parlamentares retomaram o debate para garantir mais celeridade às intervenções de engenharia que se iniciaram há mais de 10 anos.
“Temos que aproveitar esse momento para construir um consenso e formar uma coalizão que tenha força política para argumentar junto ao governo federal. Politicamente, não há dúvidas de que o momento é esse para cobrar a retomada e conclusão das obras”, destacou o deputado estadual Fernando Mineiro (PT), que mediou o encontro – com apoio do presidente da Assembleia, Ezequiel Ferreira de Souza (PSDB) – do qual participaram ainda representantes de órgãos ligados à gestão hídrica, setor produtivo e Igreja Católica.
O debate resultou em encaminhamentos ligados a obra: a retomada das obras da transposição, que foram paralisadas por pendência envolvendo uma das empresas e a revitalização das bacias hidrográficas que serão beneficiadas com a chegada das águas, com o propósito de conservá-las. Outro assunto em pauta foi a possível inclusão do Estado do Ceará nos pleitos do São Francisco. As duas primeiras demandas incluirão especificidades sobre as bacias hidrográficas.
É o caso do pedido para conclusão de um canal de seis quilômetros e meio que vai interligar as barragens de Caiçara com a Engenheiro Ávidos, ambas situadas no município de Cajazeiras (PB). Sem esse canal, as águas da transposição que já chegam a Monteiro (PB) através do eixo Leste não chegarão ao Rio Grande do Norte.
O presidente da Frente Parlamentar da Água no RN, Galeno Torquato (PSD) lembrou que o assunto é pauta de debate constante na Assembleia do RN. “A Frente Parlamentar já visitou as obras da transposição no município de Cajazeiras em 2015 e promovemos um encontro aqui, nesta Casa, em setembro do mesmo ano com a bancada federal, a participação do então ministro da Integração, Gilberto Occhi e participamos de reuniões esses dois anos na Paraíba e em Pernambuco com os membros das Frentes desses estados. Agora, nessa força tarefa e com reforço dos que aqui estão como os representantes dos sindicatos, das entidades ligadas ao comercio, serviços, igreja e sociedade civil, ampliaremos o debate para uma solução mais ágil”, destaca o parlamentar.
Um documento foi assinado pelos participantes e as demandas serão apresentadas oficialmente no início do abril, em Brasília, em duas frentes. Na primeira delas, os titulares de cada Frente Parlamentar da Água no Rio Grande do Norte, deputado estadual Galeno Torquato (PSD), e na Paraíba, deputado Renato Gadelha (PSC), articularão uma audiência, para 04 de abril, com o presidente Michel Temer para obter garantias da retomada das obras. Em outra frente, as bancadas federais do dois estados se mobilizarão para que, no dia 05 de abril, haja pressão pelas demandas na reunião da Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado, onde o assunto volta a ser discutido.
O deputado paraibano Renato Gadelha detalhou o andamento da obra na Paraíba. “E para tudo isso (as demandas tratadas na reunião), o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, já nos garantiu que há recursos. O impasse se dá pelas questões jurídicas que levaram à paralisação das obras, mas também temos a sugestão de elas possam ser retomadas através de contratação emergencial porque, na Paraíba, nossa previsão é de que a região central do estado fique completamente desabastecida a partir de agosto”, destacou o paraibano.
Os deputados estaduais George Soares (PR), Gustavo Fernandes (PMDB), Jacó Jácome (PSD) e Larissa Rosado (PSB) detalharam a situação hídrica de suas regiões, reivindicando efetividade nas ações da transposição. Os paraibanos Guilherme Almeida e Jeová Campos descreveram o trabalho feito no estado vizinho que tem as mesmas características hidrográficas e desafios na estruturação da transposição. Também tiveram representatividade na reunião a Fiern, Fecomércio; Fetarn; Faern; Comitê da Bacia Hidrográfica Piranhas-Acu; Sebrae; Secretaria Estadual de Recursos Hídricos; Caern e representantes da sociedade civil.
Eixos
O Rio Grande do Norte será beneficiado pelas águas do São Francisco de duas maneiras. Na primeira delas é com a perenização do rio Piranhas/Açu. Pelo projeto, que abrange o eixo Leste, as águas do rio, que nascem na Serra do Piancó, na Paraíba, devem ser represadas pela barragem de Oiticica antes que elas desemboquem na barragem Armando Ribeiro Gonçalves, o maior reservatório do estado.
A outra forma da água chegar ao estado será com a construção um sistema denominado Ramal Apodi, uma etapa da obra que faz parte do chamado Eixo Norte da transposição. Por este ramal, as águas deverão correr por canais, túneis, aquedutos e barragens, totalizando 115,5 quilômetros de extensão.
Em solo potiguar, as obras da transposição afetarão famílias em Luís Gomes, Major Sales e José da Penha, por onde o ramal passará até chegar ao açude público de Pau dos Ferros, de onde as águas partirão até Angicos, já na região Central do estado. Ao final do percurso, 44 municípios devem ser beneficiados.
“É importante que essa luta seja suprapartidária, que não haja bandeira política, porque estamos vendo o nosso povo sofrer com a falta de recursos hídricos. Vejam o caso do município de Luis Gomes, que está desde 2011 em situação de colapso no seu abastecimento”, destacou o arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, a quem se somou os bispos de Caicó, Dom Antonio Carlos Cruz, e de Mossoró, Dom Mariano Manzana.