Lázaro Ramos está nu. Ou quase. Aos 38 anos, o ator descreve detalhes de sua intimidade e fala o que pensa (e sente) sobre racismo nesta entrevista e no livro Na Minha Pele (Cia. das Letras, 152 págs., R$ 34,90), mescla de biografia e estudo sobre racismo, no qual relata desde os primeiros episódios de discriminação que viveu, na infância, a situações das quais é vítima mesmo sendo estrela de televisão, como ser confundido com um ladrão, no ano passado. O pior? “A mulher não entendeu por que fiquei tão ofendido com a ‘confusão’”, descreve ele no livro.
Sentado numa sala com vista panorâmica do Rio, no escritório da editora Cia. das Letras, Lázaro narra esses pormenores com um bom humor contagiante, mesmo lutando contra uma forte gripe. O clima é leve até quando revela a descoberta do preconceito, ainda menino, nas visitas que fazia à mãe, Célia, na casa onde ela morava e trabalhava como doméstica em Salvador. “Eu brincava com os netos da patroa, mas era sempre lembrado pela família de que não fazia parte dali”, diz. No livro, ele relata uma dessas situações: “Uma vez, todas as crianças foram brincar na cama da avó. Ela não gostou. ‘Tá fazendo o quê aí, menino?’, perguntou, ríspida, para mim”, descreve.
Sua lembrança mais dolorida está ligada ao sofrimento da mãe, que morreu aos 45 anos, antes de vê-lo famoso. Ao falar de Célia, a voz embarga, os olhos ficam marejados: “Sinto falta do ombro dela”. O ator afirma que não foi fácil se abrir sobre esses temas. “Acho complexo falar deles numa entrevista, por exemplo. A discussão não se aprofunda e tudo termina numa frase feita. Num livro, é possível tratar com mais detalhes.” Célia teria orgulho de seu menino, que abandonou o trabalho num laboratório médico para seguir o sonho de ser ator no Bando de Teatro Olodum. O talento o levou a uma carreira estelar, marcada por personagens importantes no teatro, no cinema e na TV.
No próximo mês, Lázaro lança seu livro na mais importante feira literária do país, a Flip, em Paraty, onde participa da abertura lendo trechos da biografia de Lima Barreto – primeiro autor negro homenageado pelo evento. No segundo semestre, comanda um novo programa de variedades, aos domingos, na Globo. Também se prepara para dirigir um filme e dois documentários – um deles sobre os bastidores de O Topo da Montanha, peça na qual dividiu o palco com a mulher, Taís Araújo. Juntos, dividem a responsabilidade de educar os filhos, João Vicente, 5 anos, e Maria Antônia, 2, e ainda dar conta de corresponder aos desejos de um público que os transformou no ideal de casal negro no país.